terça-feira, 22 de março de 2016

Entrevista com Jéssica Tainara

Continuando com a nossa série de entrevistas, trazemos para nossas páginas Jéssica Tainara, que é acadêmica do curso de pedagogia.
Ela é estagiária em uma escola municipal, e já encara na prática alguns dos desafios da futura profissão.
Nesta entrevista, tocamos em pontos considerados polêmicos nos dias atuais, como por exemplo a religião em confronto com a profissão.
Boa leitura:
1 – Nesta situação atual, onde as pessoas criticam tanto a educação, porque escolher esta profissão de pedagoga?

 Por que acredito que é uma maneira viável para contribuir na construção de um país melhor.

2 – Você acha que a sua relação com a sua religião ajudou a escolher essa profissão?

Sim,me tornei catequista aos 14 anos e acho que isso influenciou muito na minha decisão.

3 – Está na moda hoje dizer que o estado é laico. Você não teme ser discriminada no seu trabalho justamente por ser religiosa?

Sim, temo muito isso, mas acredito que mantendo uma linha de trabalho laica agradarei ao Estado.

4 – Você prefere atuar com crianças na idade de formação, com crianças portadoras de necessidades especiais, ou jovens e adultos?

Prefiro atuar com crianças ou com alunos com deficiência, também atuaria com adultos caso me fosse necessário, só não daria aula para jovens, pois a minha formação não me permite e não me identifico com essa faixa etária.

5 – Existem empresas hoje que usa o pedagogo para treinamento e desenvolvimento de pessoal. Você pensa em arriscar este caminho, ou prefere a área da educação?

Por enquanto,prefiro a área da educação devido aos meus ideais, mas ninguém sabe o dia de amanhã. Então posso mudar de opinião com o tempo.



6 – Algumas famílias são conservadoras, porém existem as que são mais liberais sobre a questão da homossexualidade.  Como lidar hoje com a questão da sexualidade na escola, sem correr risco de desagradar uma ou outra?

Essa é uma das grandes dificuldades da educação contemporânea. Mas, segundo o que aprendi o professor deve explicar sobre todos os tipos de família e perguntar como é a família de cada um de seus alunos sem expor sua opinião pessoal sobre o que acha certo ou errado. Existem livros infantis que falam sobre as novas concepções de família, são ideais para se trabalhar na educação infantil.

7 – Existem igrejas hoje que mais parecem boates, com jogos de luz, e shows musicais. Você acredita que os jovens hoje estão buscando a igreja simplesmente pelo fato de a igreja ter criado movimentos carismáticos que mais lembram o mundo?

Os jovens buscam aquilo que acham legal e atrativo aos seus olhos. As igrejas procuram com as cristo-tecas chamar a atenção dos jovens e atrai-los para a igreja. Porém, o foco da igreja é Deus, o evangelho e a fé  e  em alguns casos infelizmente as igrejas estão tão preocupadas em atrair os jovens que acabam perdendo foco em Deus e no evangelho, nesses casos elas acabam virando apenas baladas com musicas gospel.

8 – Como você consegue tempo para igreja, família, trabalho e faculdade?

Tenho uma rotina muito corrida, acabo me cansando bastante e as vezes ficando estressada, mas tenho uma agenda onde anoto TODOS os meus compromissos como por exemplo: tempo com a família, ver namorado, trabalhar, ir na igreja, ir na faculdade,estudar...
Também anoto na minha agenda meus horários de lazer, momentos em que vejo meus amigos, minhas contas. Nos compromissos que cumpri e nas contas pagas desenho carinhas felizes😁 ou o sinal  de certo e nos compromissos não compridos e nas contas não pagas marco um X ou uma carinha triste😑. Dessa forma consigo dar conta de tudo e não momentos que acho que não vou dar conta peço a Deus sabedoria para priorizar o que é mais importante para a minha vida naquele momento.

9 – Mesmo com tanta tecnologia hoje em favor da informação e da educação, o que mais vemos são jovens desregrados que beiram a marginalidade. Você acredita a causa disso pode ser um afastamento das pessoas em relação a Deus?

Como educadora acho que o que falta para estes jovens é estrutura familiar ou seja uma família que lhes de amor, como membro da sociedade, resumo que falta amor na vida deses jovens e como cristã digo que falta Deus, pois ele é o amor. Não estou querendo criticar nenhuma religião ou quem não possui religião,,pois acredito que todos que vivem e propagam o amor, estão vivendo e propagando Deus, mesmo que não acreditem nele e que não o queiram na sua vida.

10 – O que você quer para o futuro dos seus filhos?

 Eu quero que meus filhos possam viver em um mundo em que hajam muitos recursos naturais, num mundo onde haja amor, ou seja em um mundo onde o ser humano se preocupa com o outro e não só com ele mesmo. 
Esta foi a entrevista com Jéssica Tainara, nossa futura pedagoga.
Até a próxima.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Visões Noturnas


Venâncio Palhano era um peão de fazenda que viajava pelo interior do país sempre em busca de um emprego. Ele fazia de tudo, ajudava na lavoura, cuidava de gado, mexia com erva-mate, levantava cercas, caçava feras, fazia churrasco como ninguém, tocava viola, e passava horas animando a roda de chimarrão.

Seu único problema é que amava a estrada.

Não passava mais de uns dois meses em cada fazenda e já saia pelo mundo a andar pelas trilhas e trieiros no meio dessas matas fechadas, em busca de outro lugar para conhecer.

Porém, nestas minhas andanças ( que não são menos que as dele, só que não a pé, pois tenho pernas fracas como gravetos ), acabei esbarrando com Venâncio, em uma fazenda de erva-mate, onde, me confidenciaram estava havia seis meses.

Curioso, procurei saber o que havia de tão especial ali naquela pequena fazenda para segurar um espírito aventureiro por tanto tempo.

- É alguma chinoca? Ou está doente? Ou arrumou alguma pendenga e se esconde do mandatário?
- Qual nada! Se vosmecê quer mesmo saber o que me fez deixar de ser andarilho, já lhe conto.
Trouxeram o chimarrão, e corremos todos a ouvir a narrativa de nosso estimado amigo.
Ele principiou sua narrativa assim:

"- Estava eu na estrada em busca de uma fazenda qualquer onde pudesse ter um bom chimarrão, e quem sabe churrasquear e depois passar a noite esticado em uma rede, quando fui surpreendido pelo cair da noite.

A trilha era escura e a mata ao redor era fechada, o som dos bichos era distante e o luar bem fraco.

A sensação de solidão era tão pesada que me foi deixando triste e amedrontado.
Havia caminhado o dia inteiro sem ver nenhuma alma viva a não ser passarinhos e pernilongos, e queria chegar logo a algum lugar onde pudesse jogar conversa fora.
Qual não foi então, minha surpresa, quando do meio do mato saíram dois enormes homens negros, carregando cada um por uma ponta um lençol enrolado.

Concluí logo que era algum defunto, pois assim se costuma carregar quem passa deste mundo ao outro naquela região.

Pensei que eles estavam levando o pobre para algum vilarejo onde iria ser sepultado.

A minha sensação de solidão era tão grande que logo me deu vontade de alcançar os dois e perguntar quem era o defunto, se era boa pessoa, e quem sabe dar votos de sentimentos aos parentes.

Mas bastou eu andar, para eles andarem também, indo assim na minha frente, sem que eu pudesse os alcançar.

Na certa os pobres haviam se assustado comigo ali naquela trilha tão isolada que preferiram se manter longe, desconfiando que eu fosse algum assaltante.

O problema é que durante a caminhada, a imagem daqueles dois carregando o defunto a minha frente, pouco a pouco foi me deixando incomodado.

Eu parei e lhes gritei. Eles pararam, mas não me responderam. Andei de novo, eles andaram.

Aquilo me deu medo.

Estava claro para mim, que aqueles dois haviam matado o coitado e iam dar sumiço no corpo, mas não sabia o que pretendiam comigo. Talvez ainda decidissem entre si, me matar ou me deixar ir embora.

Eu parei outra vez, e resolvi ficar ali até que eles sumissem de vista. Mas os dois pararam também.

Aquilo foi demais, andei de novo eles andaram.

Parava, paravam... Andava, andavam... Parava, paravam... Andava, andavam...

Tomei a resolução. Sai correndo para alcançar os dois e resolver logo aquilo tudo.

Mas os dois correram sem largar o lençol, na minha frente. Quanto mais eu corria, mais eles corriam também.

Disparei com todas as forças que minhas pernas tinham, decidido a alcança-los. E assim o fiz."

Nesse momento ele parou para tomar outro chimarrão.
- Anda compadre. E então? Quem eram os dois? E quem era o defunto?

- Ora, compadre. Não eram ninguém.
Todos nós ficamos ali mudos, e Venâncio nos olhando matreiro, concluiu:
- Ora o medo da asas a imaginação, e esta aliada a solidão, nos prega anedotas tais que não se há de acreditar. Os dois negros carregando o lençol branco com o corpo, na verdade era uma vaca preta que tinha uma enorme barriga branca. Quando eu andava, ela andava, e se eu parava ela parava. E na escuridão da noite, eu no meu medo, acabei imaginando coisas.

Caímos todos na gargalhada.

Se a história de Venâncio era verdadeira ou não, eu nunca soube ao certo, mas se você passar pela velha fazenda que até hoje está ali naquela região, ele mesmo vai te contar enquanto toma um delicioso chimarrão. Pois já se vão vinte anos que ele mora por lá.

O medo pode dar asas a imaginação, mas cortou a asas de nosso velho amigo.