quinta-feira, 1 de outubro de 2015

De Flu, São Paulo, Fred e Fraternidade

Em 1993, eu então com 14 anos de idade, via o São Paulo FC chegar ao seu segundo título mundial de clubes de forma consecutiva.
Batia eu no peito e dizia que era torcedor do São Paulo FC. Foram anos de alegria e de glória.
Mas no ano seguinte, 1995, meus pais se separaram.
O que isso tem de haver com isso?
Nada!
Ou tudo!
Meu irmão e eu, sempre fomos muito unidos em tudo. Até mesmo nos momentos em que tramávamos os mais elaborados planos para confiscar R$ 1,00 da carteira do meu pai, sem que ele soubesse.
O que levava dois irmãos a criarem os mais inusitados planos para chegar até a carteira do pai e conseguir "se apossar" dessa fortuna?
Na época R$ 1,00 equivalia a 4 ( isso mesmo 4 ) fichas de fliperama!
Cansamos de morrer nas mãos de Tyrog, em Cadillacs and Dinosaurs, graças a estes 4 pequenos objetos de metal.
Até que a fase dos fliperamas acabou.
É necessário dizer que eu carregava comigo um costume que herdei do meu pai: ele se dizia Santos FC em São Paulo e Flu, no Rio de Janeiro.
Motivo: o Santos era sua paixão desde menino por causa da era Pelé, e a paixão pelo Flu veio por causa da proximidade que ele acabou tendo com o estado do Rio de Janeiro porque minha mãe é carioca.
A exemplo dele, eu era São Paulo por causa de Palhinha, Raí, e Zetti, mas ao mesmo tempo era Flu no Rio de Janeiro.
Foi nessa época que aqui no meu estado do Mato Grosso do Sul, a TV Band, passou a transmitir o campeonato carioca nas tardes de sábado e noites de quinta-feira. Quartas e domingos era dia de Corinthians...
Então, novamente a união entre meu irmão e eu entrou na história.
Meu irmão é flamenguista, e consequentemente, não poderíamos "disputar" o carioca com o São Paulo FC, foi aí, que para ter como disputar de forma justa no nosso Snes, ele sempre jogava com Flamengo de Romário e eu passei a jogar com o Flu do fraco Super Ézio.
Sim, fraco! Porque Flamengo tinha Romário, Fogão tinha Túlio Maravilha e Vasco tinha Valdir Bigode.
Para piorar naquele ano Ézio iria para o Galo Mineiro, e teríamos que se virar com o folclórico Renato Gaúcho...
Então veio a desgraça!
Em 1996, o Flu terminou rebaixado ao lado do Bragantino, porém os dois não disputaram a Série B em 1997, porque o escândalo Ives Mendes criou uma bagunça.
Descobertos tramando resultados Petraglia ( Atlético PR ) e Dualib ( Corinthians ), acabaram sujando a história daquele campeonato.
Para desviar o foco e não punir os dois clubes ( Atlético PR chegou a ser formalmente suspenso por 1 ano, mas não cumpriu ), resolveu-se cancelar o rebaixamento naquele ano.
Por quê?
Porque se punidos, Atlético PR e Corínthians teriam de jogar a Série B de 1997, então, a Imprensa resolveu jogar a culpa em Flu e Bragantino, acusando-os de virada de mesa.
Mas em 1997, o Flu resolveu "fazer justiça" e acabou novamente rebaixado ao lado do Bahia, Criciúma e União São João.
E não se dando por satisfeito, em 1998 acabou cando para a Série C.
Esta foi uma época de puro apagão.
Na época eu não tinha Internet, e não sabia nada que acontecia com os times que não estivessem na Série A.
Em 1999 só sei que o Flu ganhou a Série C.
Mas foi neste campeonato brasileiro, que o São Paulo ( olha a coincidência ), escalou um jogador ( Sandro Hiroshi ) de forma irregular e acabou perdendo pontos para Bota Fogo e Internacional.
Isso fez com que o Gama do Distrito Federal fosse rebaixado no lugar do Bota Fogo do Rio.
o Time de Brasília entrou na justiça comum, e a CBF acabou proibida de organizar o Brasileirão de 2000.
O Clube dos 13 assumiu esse papel.
Veio então o Brasileirão 2000 ( Taça João Havelange ) com 116 times divididos em 4 módulos.
Então o Flu fez uma campanha muito boa e depois disso não caiu mais.
Com exceção do caso 2013, que não vou falar sobre o caso porque envolve o Flamengo do meu irmão e a Portuguesa ( que eu peguei simpatia por causa do time que perdeu a final pro Grêmio, na época do exílio do Flu ).
Mas afinal, onde isso tudo que eu escrevi quer levar?
A um fato que pode parecer irrelevante, mas que para mim tem uma importância enorme.
Vocês lembram que eu falei que na época em que passei a seguir o Flu, ele era o único grande do Rio que não tinha um ídolo?
Você pode até questionar sobre o valor de Super Ézio e Renato Gaúcho, mas a verdade é que ficou no meu inconsciente uma orfandade em relação a Valdir, Romário e Túlio.
Tenho que dizer que larguei o São Paulo de estrelas como Raí e Palhinha e até Juninho Paulista, porque na época de 1995/96, alguns colegas de escola pressionavam sobre o fato de ter dois times, um em cada estado.
E como o São Paulo estava em alta e o Flu, em baixa, e também por causa "das estranhas tabelas que o goleiro Maizena ( América RJ ) fazia com o ataque do Flamengo" como diria o maravilhoso Januário de Oliveira, acabei escolhendo de vez o Flu.
Talvez seja a primeira vez na história da humanidade que um flamenguista acabou ajudando a criar um tricolor.
Faltava alguém para se tornar um tipo como Rogério Ceni era para o São Paulo, ou o Totti era para o Roma, e ainda são...
Então veio a Revolta de 2009!
Neste ano matemáticos, especialistas, jornalistas e até quem não gostava de futebol já dava o Flu como rebaixado ( de novo? ) pelo Brasileirão.
Mas em Março daquele ano, havia chegado ao Fluzão o atacante Fred, vindo do Lyon da França. Ele tinha sido jogador do modesto América MG e do Cruzeiro antes de ir para a França.
Ele veio com grande estardalhaço, mas se machucou e ficou grande parte daquele Brasileirão no estaleiro.
Mas voltou na reta final, como se substituído por um outro Fred.
O Fred do Lyon que havia chegado em Março, havia sido trocado pelo Fred que voltava em Outubro, e foi um dos responsáveis pela maior façanha de um time de futebol do mundo.
No dia 10 de Outubro de 2009, o estádio Bruno José Daniel viu o nascimento de um jogador que se colocaria na posição de tirar a orfandade de mitos do Fluminense.
Entre 10 de Outubro e 6 de dezembro, foram 13 gols em uma sequência de 11 vitórias, 4 empates e apenas 1 derrota.
O time além de permanecer na Série A, ainda foi vice campeão da Copa Sul-Americana.
Depois disso, Fred foi campeão em 2010 e 2012, pelo Flu.
Teve altos e baixos assim como já teve Totti no Roma, e Ceni no São Paulo.
Mas para mim, é sem sombra de dúvidas o maior mito da minha fase Fluminense.
Você pode até dizer que há outros mitos maiores do passado, e tudo o mais, mas precisa entender que eu só fui conhecer mais de perto o Fluminense de 1995 para cá, e por essas razões descritas.
Não fosse a proximidade com meu irmão, não fosse nossas noites de quinta em frente a uma TV velha assistindo os medonhos Flamengo e América ou Fluminense e Bangu, talvez até hoje eu estivesse assistindo o São Paulo de Pato e Ganso.
Só faltou dizer uma coisa: meu irmão e eu nunca conseguimos passar por Tyrog em Cadillacs and Dinosaurs.
Mas um dia ainda acharemos esta máquina e faremos isso.
E que mesmo com parte da torcida ainda torcendo o nariz para ele, que Fred fique muitos e muitos anos no Fluminense.
E que meu irmão e eu tenhamos muitos e muitos reais para comprar fichas o suficiente para vencer o perigoso Tyrog...

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