terça-feira, 15 de maio de 2018

Série Histórica - Guerra de Canudos Parte 1: De Antônio à Conselheiro

Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu em Quixeramobim, na província do Ceará, em 13 de março de 1830.

Após aprender a escrever e a contar, com o amigo de seu pai, capitão Raimundo Francisco das Chagas, ele ingressou na escola particular de Manuel Ferreira Nobre, estudando português, aritmética, geografia e rudimentos de latim e francês.

Em 1947, o Ceará e as regiões vizinhas, conheceram secas violentas, onde as plantações secavam e o gado morria. Os senhores vendiam seus escravos para o Sul, para quitar dívidas e os indígenas entregavam seus filhos como escravos em troca de alimentos. Já com 18 anos, em 1948, o jovem Antônio teria deixado de trabalhar como caixeiro na casa comercial do pai.

Em 1855, o pai de Antônio morreu, deixando o filho responsável pelas irmãs ainda solteiras, além de negócios bastantes enredados. No ano seguinte, faleceu sua mãe com apenas 39 anos de idade e faculdades mentais adoecidas.

Com as dívidas a serem pagas, e o espólio restante tendo de ser dividido entre os filhos, Antônio ficou com pouco mais de 200 réis, para continuar o negócio da família. Mas a situação da província e a base precária para iniciar o negócio, obrigaram Antônio a hipotecar a casa e a sede do negócio do pai.

Em janeiro de 1857, Antônio se casou com Brasilina Laurentina de Lima, que era filha ilegítima, órfã e analfabeta. Meses depois, ele vendeu tudo e foi para a Fazenda do Tigre, 50 quilômetros da vila natal.

Ele abriu uma escola primária onde ensinava português, aritmética e geografia. Além disso, para sobreviver, ele desempenhou funções de domador e pedreiro-construtor.

Mesmo na sociedade escravista da época, trabalhar com as mãos era socialmente degradante, e Antônio, era filho de comerciante e letrado. Portanto, ele se tornou um participante de dois universos diferentes. Um caso raro na sua época.

Antônio se mudou para Tamboril e depois Campo Grande, onde atuou como caixeiro em 1859 na casa comercial do major Domingos Carlos de Sabóia. Quando o negócio fechou, ele passou a atuar como rábula ( ou advogado provisionado ), o que confirmava sua formação intelectual.

Em 1861, já em Ipu, foi traído e abandonado pela esposa que foi viver com um suboficial da força pública.

Sozinho, mudou-se para a Fazenda de Santo Amaro, propriedade do major José Gonçalves Veras, onde voltou a lecionar. Mais tarde, na vila de Santa Quitéria, envolveu-se com Joana Imaginária, escultora de imagens de barro, e muito conhecida regionalmente.

Em 1865, Antônio viajou para Campo Grande, Crato e Paus Brancos, trabalhando como vendedor ambulante, acompanhando evangelistas missionários pela região.

O nascimento do Antônio religioso pode ter sido facilitada pela sua criação familiar e possibilitada pelas condições da época. Como no Brasil colonial sempre houve uma falta de sacerdotes, cabia a alguns homens e mulheres caridosas, desempenhar esse papel. A existência desse clero laico, era comum no interior do Nordeste e no Sul, entre caboclos, imigrantes alemães e italianos.

Não seria nada absurdo que um professor fosse encarregado de realizar essas atividades religiosas quando necessário. O fato de saber ler e escrever, colocava Antônio na condição de um mestre diante da população sertaneja analfabeta.

O Conselheiro era aquele que desempenhava o papel de pregador, e dava conselhos para os crentes entre esse clero laico. O Conselheiro era geralmente uma pessoa de influência social dentro das comunidades sertanejas, desempenhando uma liderança política e ideológica mesmo que não oficialmente.

Antônio acabou alcançando um poder político e social muito grande.

Ele conheceu ainda em seu tempo de vendedor ambulante, padre José Antônio Pereira Ibiapina, e com ele andou por algum tempo pelo sertão. O padre era considerado um homem santo pelo povo do sertão. Quando padre Ibiapina morreu em 1883, a fama de Antônio Conselheiro já se espalhava pelos sertões.

O filho de um comerciante analfabeto, sem posses, e de futuro incerto, acabou se tornando um líder religioso e líder político em Belo Monte, arraial fundado por ele.

Mas antes disso em 1869, quando morou em Várzea de Pedra, acabou adquirindo uma dívida que não pode quitar, e condenado teve seus bens leiloados em outubro de 1871.

Dois anos depois, 1873 ele reapareceu em Assaré ( Ceará ), já como beato. Ali conheceu os irmãos Honório e Antônio Assunção Vila Nova que posteriormente também tiveram papel importante em Belo Monte.

No ano seguinte, 1874, ele andou pelo Sergipe e pela Bahia, onde pregava e aumentava seu número de fiéis. Nessa época ficou conhecido como Santo Antônio dos Mares.

Em 22 de novembro de 1874, O Rabudo, um semanário sergipano publicou:

"A bom seis meses que por todo o centro desta e da província da Bahia,
chegado do Ceará, infesta um aventureiro santarrão
que se apelida por Antônio dos Mares, o que,
a vista dos aparentes e mentirosos milagres que dizem ter ele feito,
tem dado lugar a que o povo o trate por Santo Antônio dos Mares"

Este artigo tem como base bibliográfica a obra Belo Monte uma História da Guerra de Canudos, de José Rivair Macedo e Mário Maestri, da Editora Moderna que faz parte da Coleção Polêmica.

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