terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Basta de incêndios no Carnaval

Volta e meia vemos no cenário do Carnaval do Rio de Janeiro incêndios em barracões e/ou fábricas que confeccionam fantasias e utensílios para os desfiles das escolas de samba.

Seja nas escolas do grupo Especial, como aconteceu na Cidade do Samba há alguns anos atrás, seja o que aconteceu recentemente numa fábrica no bairro de Ramos, região da zona norte da cidade.

Precisamos emitir esse alerta e debater pois o universo do Carnaval está cada vez com maiores recursos para provimento do espetáculo e deve-se ter um maior profissionalismo em sua cadeia logística.

Os holofotes do mundo estão com maior visibilidade ao Carnaval do Rio de Janeiro e certos pontos não podem acontecer mais, como por exemplo condições sub humanas de estrutura nos barracões das escolas e ateliês parceiros, deve haver um protocolo rigoroso de segurança junto ao Corpo de Bombeiros para que não se tenha essa perda de ativos de maneira tão rápida.

Outro ponto são as condições de trabalho aos profissionais envolvidos, como pragas, incêndios e sujeira são apontadas como parte da rotina nesses espaços atualmente; o fogo ocasionado na fábrica é o atual retrato das condições dos trabalhadores do Carnaval.

Nos últimos anos, um festival de desapropriações e de incêndios suspeitos têm feito parte de rotina destas agremiações da série Ouro, que possuem um orçamento de algo em torno de dez vezes menor do que de uma escola do grupo Especial, passarem por momentos de desespero.

Localizados na Zona Portuária, em antigos galpões próximos à moderna Cidade do Samba onde abriga as escolas do Grupo Especial, os barracões destas agremiações sofrem, há muitos anos, com a falta de estrutura física e a insegurança jurídica sobre as permissões de uso.

A solução mais viável e que deve ser sanada com o tempo será a construção da Cidade do Samba 2, onde será localizado na antiga Estação da Leopoldina.

Segundo o prefeito Eduardo Paes, as obras ainda estão bem no inicio com previsão de inauguração para 2027, porém depois de mais uma tragédia há a possibilidade de intensificarem e quem sabe inaugurarem com antecedência. 

O Carnaval merece essa atenção de todos e enterrar de vez o amadorismo em sia cadeia de produção.


TEXTO DE:

Thiago Muniz

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Carnaval 2025 - Viradouro

MALUNGUINHO

A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro

Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó

Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo

Porque nunca ando só, porque nunca ando só

(Refrão Viradouro 2025)

Em busca do quarto título, a Unidos do Viradouro levará “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos” para a Marquês de Sapucaí ao contar a história da entidade afro-indígena que se manifesta como Caboclo, Mestre e Exu/Trunqueiro.

Com assinatura de Tarcísio Zanon, o enredo retorna a primeira metade do século XIX, no estado de Pernambuco, no nordeste brasileiro, onde o quilombo do Catucá era foco de resistência e viu seu último líder, João Batista, o Malunguinho, ser duramente perseguido por seus atos libertários.

Malunguinho é uma entidade afro-indígena que aparece em terreiros de Umbanda, Catimbó e Toré, principalmente no Nordeste do Brasil. Ele é inspirado na figura de João Batista, líder do Quilombo de Catucá.

Malunguinho é representado como um caboclo, mestre e exu. Ele é o dono da chave mágica para abrir senzala e fechar o corpo de quem pede proteção.

Malunguinho era conhecido e temido por todos os senhores brancos, pois tinha a coragem de libertar escravos abrindo portas de cativeiros e senzalas, destrancando correntes que aprisionavam os seus irmãos de cor.

Como se sabe, onde havia escravidão no Brasil havia fugas, tanto individuais como em grupo. Mas um quilombo de verdade é uma comunidade com um mínimo de estabilidade, exigindo para isso grande capacidade de organização e adaptação.

Imagine um líder quilombola lutando contra senhores de escravos e tropas imperiais na primeira metade do século XIX.

Seu nome? Malunguinho.

E em 1827, o governo da província de Pernambuco colocou sua cabeça a prêmio, na maior operação contra quilombolas na região, desde a destruição de Palmares, em 1695.


TEXTO DE:

Thiago Muniz

Carnaval 2025 - Beija-Flor

LAÍLA

Da casa de Ogum, Xangô me guia

Da casa de Ogum, Xangô me guia

Dobram atabaques no quilombo Beija-Flor

Terreiro de Laíla, meu griô

(Refrão Beija-Flor 2025)

O samba de enredo em homenagem a uma figura pública, só o samba mesmo, que tem melodia e cujos versos expressam perfeitamente o homenageado, igual ao que os compositores montaram sobre o Laíla eu nunca vi.

Quem não teve o prazer e o privilégio de conhecer um dos maiores nomes dos desfiles de Carnaval, porque ele nunca teve a projeção de um Chico Buarque, Maria Bethânia, pode não ter a dimensão. Está tudo ali.

Laíla não é o maior nome do samba. Muito menos o maior do Carnaval. Mas dos desfiles de escola de samba, se ele não é o Pelé, não sei quem seria. Sobre a dinâmica dos desfiles de escola de samba, é disparadamente o maior. E sem o reconhecimento que deveria.

Em seis décadas de desfiles ele foi ferreiro, costureiro, aderecista, chapeiro, escultor, passista, compositor, cantor, mestre de bateria, diretor de bateria, carnavalesco, diretor de harmonia, diretor de Carnaval, produtor, cozinheiro, garçom, empurrador de alegoria, criador de caso e gênio. E essa opinião não é só minha: Fernando Pamplona e Joãosinho Trinta, gigantescos do talento e vaidade, admitiam que Laíla era imbatível.

E se Laíla é o Pelé dos desfiles de escola de samba, Neguinho da Beija-Flor é o Garrincha, que não tem a mídia do Messi e do Cristiano Ronaldo, mas é coisa de doido.

Como diz o jornalista João Alberto Safadi: “Laíla para reconduzir os caminhos da Beija-Flor”.

 Uma história de amor e reconciliação.


TEXTO DE:

Thiago Muniz